Fome, desnutrição e insegurança alimentar no Estado do Rio de Janeiro: a trágica crônica de uma história tantas vezes contada.

IDI-Opiniao

Rio de Janeiro, 28 de outubro de 2021.

Por Paulo Bastos

Em julho de 2021, o Dieese divulgou o custo da cesta básica nos estados brasileiros. No Rio de Janeiro, o valor alcançava impressionantes R$ 629,63, uma situação extrema levando-se em conta que, segundo dados do IBGE, dos 16.460 milhões de habitantes do estado, cerca de 6 milhões vivem com menos de R$ 499,00. A conjunção desses fatores leva a riscos graves: fome, desnutrição e insegurança alimentar. Mas como, e por que motivos, o segundo estado mais rico da federação chegou a essa situação dramática?

Em Geografia da Fome, de 1946, Josué de Castro mostrava como os fenômenos biológicos, econômicos e sociais estavam associados à questão da fome. Levando em consideração a metodologia de análise do renomado geógrafo, pontuamos alguns aspectos relevantes para se compreender esse cenário.

Lembramos, inicialmente, que a agropecuária no Estado do Rio de Janeiro possui uma baixíssima produção. De acordo com dados do IBGE, no que tange à economia do estado, 68% da contribuição provém do setor de serviços, 31,6% da indústria e apenas 0,4 % da agropecuária.

Em grande parte, isso se dá por uma ocupação histórica predatória dos solos fluminenses, com destaque para os latifúndios monocultores de cana de açúcar e café, que contribuíram com o desgaste de solos já pouco adequados para práticas agropecuárias de larga escala. A isso, soma-se o número reduzido de políticas de fomento aos médios e pequenos produtores, justamente os que produzem alimentos para a população. Tal descaso pode ser verificado na mudança de uso e ocupação dos solos nas poucas regiões produtoras do estado, como Friburgo, onde os pequenos produtores sem apoio, trocaram a agricultura pelo setor de entretenimento e lazer, aumentando a pressão da especulação imobiliária nessas áreas. Essa realidade nos mostra que grande parte do que consumimos vem de outras regiões do país, aumentando o valor dos alimentos.

Esse quadro, associado ao desemprego que hoje já atinge 1,5 milhão de pessoas, constitui uma triste realidade que coloca milhares de pessoas em risco de fome, insegurança alimentar e desnutrição. Por fim, soluções para essa situação não serão observadas em um horizonte próximo, já que muitas das contradições que levaram a tal situação permanecem e, ao que parece, permanecerão presentes no território fluminense.

Deixe um Comentário