Desafios para a defesa da democracia pós pandemia: a virtude da perseverança

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Paulo Bastos
Doutor em Arquitetura e Urbanismo
Membro do Instituto por Direitos e Igualdade – IDI

No ano de 2016 forças conservadoras da sociedade, setores da grande mídia e do empresariado nacional e internacional engendraram uma forte articulação para construir o golpe que culminou com o impeachment da primeira Presidenta do Brasil. A justificativa para isto se baseava em supostas operações fiscais não previstas na legislação realizadas pelo então Governo Federal, entretanto, os objetivos reais para a retirada de Dilma Roussef da Presidência encobriam, por debaixo de um tapete obscuro, interesses políticos e mercadológicos que impactariam diretamente na vida dos trabalhadores. Retirada de direitos, enfraquecimento das instituições e a depreciação dos servidores públicos, passaram, com efeito, a constituir uma agenda devastadora para os trabalhadores brasileiros.

Dois anos depois do golpe, nas eleições presidenciais de 2018, o Status quo organizou-se para a garantir a manutenção do poder político no país, porém, devido à fragilidades verificadas nas campanhas de seus representantes, somados à anuência com práticas antidemocráticas (fake news) e uma massiva campanha antipetista movida por setores da grande mídia, o candidato eleito foi Jair Bolsonaro.

Candidato este que trazia consigo um discurso raivoso, que dialogava com setores ultraconservadores da população brasileira saudosos de um período, que imaginavam voluntarioso durante o regime militar, ínterim este onde foram observados o endividamento do país, a concentração de terras, prisões e torturas, além do aumento da corrupção e da violência na sociedade.

Observem: dialogava com setores já existentes. Defendo, portanto, que o ovo da serpente fora parido muito antes, por sucessivas gestões que nunca conseguiram minimamente amortecer a tensão na sociedade por sucessivas debilidades e faltas, como a ausência de punição para os torturadores do regime militar, o olhar complacente com os excessos paramilitares promovidos contra populações mais pobres, em especial à população jovem negra, por deixarem a população presidiária esquecida em masmorras da idade média à margem da vida, por reprimir e criminalizar os movimentos sociais, ao jamais implementaram a reforma agrária e urbana, e em nenhum momento, efetivamente coibir o preconceito racial e de gênero, ambos estruturais na sociedade brasileira.

Naturalmente, o atual governo, fundamentado em núcleos militares saudosistas, setores ultraliberais, grupos oportunistas do congresso e bufões ideológicos garantiram amplificação necessária para setores extremistas descompromissados com qualquer tipo de racionalidade, coerentes, destarte, com o período pós – verdade, explicado por Mauro Iasi no ano de 2017, “Ultimamente temos nos deparado constantemente com a afirmação surpreendente que tudo se resume a “narrativas…qualquer tentativa de estabelecer a verdade é prontamente acusada de arrogância,…Chegamos, então, à conclusão de que, no reino da propriedade privada, a única coisa realmente socializada é a mentira.”

Todavia, mantida a normalidade democrática, e se as instituições permanecerem íntegras, teremos ao fim desta crise mundial, não se sabe quando ela vai acabar, um governo despreparado para enfrentar a maior recessão do século, quiçá da história, com menos da metade da população brasileira empregada e carregando o fardo de milhares de mortos. A esta altura, o cenário pós- pandemia não será mais afável, a reconstrução de uma nação custará recursos demasiados e vontade política nunca vista neste país, além disso, setores extremistas estarão ainda mais coléricos e a polarização política ainda mais acirrada, cenário este que colocará qualquer movimento democrático em xeque.

Para finalizar, aponto para o mais nevrálgico deste texto, a recessão mundial que seguirá após a pandemia e o rastro de destruição de um governo desqualificado, irão escancarar as portas para soluções vindas do mercado, ávido em garantir seus lucros e o ressarcimento dos custos deste período, e que para isso buscará transferir novamente para a população e os trabalhadores o ônus desta triste realidade. Por isso tudo se faz mister, em um cenário pós – pandemia, a necessidade de manter a luta pela restituição e ampliação dos Direitos da população, em especial dos seus setores mais vulneráveis. O Instituto por Direitos e Igualdade- IDI, sabe muito bem disso, e por isso estará empenhado neste momento em contribuir com ideias e ações para a promoção efetiva dos Direitos da população em suas diferentes vertentes.

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